Castigo ou Misericórdia? Gênesis 19

A destruição de Sodoma e Gomorra figuram nas Escrituras como simbolo da punição, castigo e juízo divino, de como a aversão ao pecado tenha causado a destruição e ruína de pelo menos duas cidades bastante prósperas.
Sodoma, Gomorra e outras cidades-estados do Vale de Sidim figuram como a antítese do plano divino, como afronta aos princípios e virtudes morais. Uma região urbano próspera, situada em um vale fértil e produtivo. A prosperidade e o crescimento populacional criou condições para a ociosidade e criativa busca por lazer. Sodoma assim figura como centro da busca desenfreada por lazer e prazer de forma obscena, lasciva e violenta.
Apontado por Tomás de Áquino e, em decorrência da importância dos seus escritos nos meios religiosos, o pecado de Sodoma seria o homossexualismo (daí o termo sodomia). Mas, apesar de ficar intrínseco em partes, essa relação no texto, não é exatamente ou o único motivo para o juízo determinado.
“Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: Soberba, fartura de pão, e abundância de ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado.” (Ezequiel 16:49, RCF).
Midrash são uma série de conhecimentos e textos hebraicos, os quais descrevem em mais detalhes os pecados de Sodoma:
“Os cidadãos de Sodoma e das outras cidades eram orgulhosos e egoístas. Suas leis cruéis demonstravam como eram perversos. Eis aqui algumas de suas leis:
• É proibido alimentar um pobre.
• Os moradores de Sodoma tinham outro costume mesquinho: Quando um pobre chegava a Sodoma, cada cidadão costumava dar-lhe uma moeda, na qual estava gravado o nome do dono. O pobre pegava as moedas com alegria, mas ninguém lhe vendia comida por estas moedas. Assim, o pobre homem morria de fome. Então todos recuperavam suas moedas de volta. Esta era a única “caridade” permitida pelas leis de Sodoma.
• Ninguém pode convidar um desconhecido para sua casa.
• Qualquer desconhecido que passe por Sodoma será maltratado e roubado.
Os habitantes de Sodoma viviam felizes com essas leis horríveis! “Queremos cuidar do nosso dinheiro. Se nós convidarmos hóspedes ou dermos de comer aos pobres, perderemos nosso dinheiro”, diziam.

Certa vez, duas moças de Sodoma foram ao poço tirar água.
“Porque você está tão pálida?” – perguntou uma para a outra. A outra sussurrou bem baixo, para que ninguém mais pudesse ouvir: “Não temos comida em casa! Vamos todos morrer.”
Quando a amiga ouviu isso, ficou com pena. Correu para casa e encheu um jarro com farinha. Trocaram os jarros, assim uma recebeu o jarro com farinha e a outra levou para casa um jarro com água.
Mas alguém as observou. Informou aos juízes de Sodoma sobre a ação bondosa da moça. E o que fizeram esses juízes? Mataram a moça piedosa, por haver violado as “leis de Sodoma”.

O povo de Sodoma costumava roubar seus próprios ricos, da seguinte maneira: levavam o rico para a parede de um pardieiro. Todos se juntavam e derrubavam a parede sobre ele, deste modo ele ficava soterrado sobre os escombros e morria. Depois, dividiam o dinheiro entre si.

Se um homem batia em outro e o fazia sangrar, o juiz decidia que a pessoa ferida devia pagar honorários médicos ao atacante, por prestar o serviço chamado “sangria” que os médicos costumavam executar.”  (Texto da Midrash, disponível em: http://www.chabad.org.br/tora/leitura/vayera/parte3.html).

Esse ponto de vista concorda plenamente com o texto bíblico e tem boa relação com costumes da época. A destruição de Sodoma é relatada logo após a visita dos forasteiros divinos a Abraão, que figura como símbolo de hospitalidade, contrastando com a xenofobia dos sodomitas.
O texto bíblico não trata de abuso sexual de cunho homossexual, mas sim da humilhação pública de estrangeiros, sendo que o abuso sexual era uma tratamento vexatório imposto a prisioneiros ou inimigos de guerra com a finalidade de causar constrangimento tanto a homens quanto a mulheres.
No mundo antigo, a xenofobia tinha sua razão de existir. Eventualmente forasteiros disfarçados eram espiões designados por outras cidades-estados procurando local e ocasião para guerra e pilhagem. O pecado apontado para os sodomitas era sua crueldade e a maneira como transformaram uma medida preventiva como símbolo de sua maldade e perversão. A adoração aos deuses de sua religião incluíam orgias, licenciosidade, bebedeiras, drogas e glutonaria e desenfreada crueldade e perversão, incluindo sacrifícios humanos de adultos e crianças. Satanás tinha de tal forma incutido sua perversão sobre esses homens, que passaram a considerar tudo que é depravado e mal como sendo normal e prazeroso.
A arqueologia tem elaborado algumas teses que confirmam a existência das cidades e sua destruição catastrófica, seja de origem vulcânica ou um asteroide, a verdade é que o relato tem documentação suficiente para ser considerado autêntico do ponto de vista arqueológico e histórico.
A visita dos anjos de Deus naquela noite tinha alguns propósitos, os quais podemos citar:

  • Os mensageiros de Deus vieram para avisar e buscar Ló, que mesmo influenciado pela falsa prosperidade, ganância e arrogância da cidade ainda mantinham uma frágil fé em Deus e sua família tinham o senso de justiça, tanto que assim que os anjos chegaram na cidade foram recepcionados por Ló e recebidos, com insistência em sua casa;
  • Se os líderes da cidade houvessem recebidos esses mensageiros do juízo com hospitalidade, teriam sido advertidos e, como aconteceu com Nínive, o juízo de Deus seria desviado ou adiado, ou talvez todos tivessem tido uma oportunidade para fuga;
  • Os reis dessas cidades haviam tido contato anos ante com Abraão como seu benfeitor e libertador. A convivência com sua família (de Abraão e Ló) fora um testemunho vivo da benevolência divina e a vida em comunhão com Deus em contraste com sua vida libertina e perversa;
  • O fato de tentarem executar sua perversa prática xenofóbica contra os benevolentes mensageiros designados por Deus testemunhou a todos os povos e a Abraão e seus descendentes a medida da justiça divina. Aquele povo havia se voltado definitivamente para o mal e, se não fosse erradicado da terra, teria sido uma influência devastadora para o mal a toda uma civilização.
  • Os arautos de Deus foram uma prova universal a todos os seres criados inteligentes de que os habitantes daquelas cidades haviam terminantemente escolhido o mal e o pecado e seu ataque aos forasteiros naquele dia fora motivado muito mais por desejo de obter diversão e lazer, por uma busca de prazeres mórbidos do que pelo medo de um ataque de povos desconhecidos.

Assim, o juízo de Deus a Sodoma e Gomorra mais parece um ato de misericórdia para a humanidade do que um castigo. Deus precisava intervir para preservar o senso de justiça, para que a força das trevas não prosperassem contra a luz da verdade que deveria brilhar daquele lugar para o mundo. O tempo da graça para os cananeus ainda não tinha findado, mas a continuidade daquelas cidades poderiam manchar mais ainda os demais cananitas, já propensos para a idolatria e perversidade.

Hoje estamos imersos em uma sociedade muito semelhante àquela. Vivemos em centros urbanos que propiciam a ociosidade e busca desenfreada por prazer, cada vez de forma mais agressiva, libidinosa e cruel. O meio eletrônico fornece acesso a cada vez mais maldade e violência, principalmente de cunho psicológico. É a forma ideal de gradualmente envolver no mal, até que ele pareça normal e inocente. Vez ou outra algum juízo divino aparece de forma catastrófica demonstrando que não ficaremos impunes. Não que o juízo tenha caráter punitivo, mas, sim, redentivo. Os atos de Deus tem o firme propósito de redimir e enquanto ainda houverem homens sendo salvos Deus permite a continuidade da raça humana. Porém, como no caso de Sodoma, quando fica evidente que  os homens não mais escutam sua voz de libertação, Deus provê a fuga dos fiéis e põe cabo nos que deliberadamente acataram a impiedade.
Você ouve a voz de Deus através dos tempos chamando para os montes? Para a libertação?
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