Uma leitura exegética de Efésios

É relativamente significativo ler o livro de Efésios e poder considerar a essência do pensamento paulino ao desenvolver sua epístola. A erudição, retórica bem elaborada e mesmo poética me faz crer que essa carta foi escrita com o propósito de ser declamada, como um sermão, mas, um sermão enfático, talvez comemorativo. É claro que isso é uma percepção pessoal e sem confirmação. O texto caminha por uma trilha bem definida, com uma linguagem batismal, enfatizando as características da nova natureza, após a conversão e batismo, bem como a transformação efetuada em Cristo após o encontro do homem, enquanto indivíduo, com seu Senhor. A linguagem é recheada de referências antropológicas, tais como corpo como igreja, Cristo como cabeça, casamento como figura da relação entre Cristo e a igreja. É perceptível a ênfase apostólica na unidade do corpo de Cristo e união da esposa com o Esposo, não abrindo margem para qualquer diferenciação ética, intelectual ou cultural, de forma a excluir da discussão a possibilidade de algum grupo se considerar privilegiado ou superior em relação a outros. O texto descreve exaustivamente a graça concedida, imerecida e ofertada por Deus através de Cristo e como o homem (ser humano) pode ser completo na medida em que imerge (linguagem batismal) na graça oferecida, ao mesmo tempo em que destaca o papel do homem enquanto igreja/corpo – corporação. Ou seja, o cristianismo individual toma forma no grupo social religioso, livre de preconceitos e discriminações.

Toda essa preleção encontra eco com temas e discussões acaloradas desenvolvidas no âmbito social dos círculos religiosos contemporâneos. Há uma tendência atual de destacar toda a atividade revolucionária, antidiscriminatória e livre de preconceitos, levando muitos a crerem em Jesus como um personagem singular, mesmo revolucionário, mas, destituído da divindade e poder de Deus. Essa abordagem é vazia e embora pareça resolver o problema da descrença, já que até mesmo céticos e ateus de plantão, conseguem visualizar um Jesus humanitário, afasta para longe da essência cristã seus adeptos.

O cristianismo propagado na epístola aos Efésios descreve um Deus Redentor, que busca a unidade como o homem, tanto do indivíduo que permite a permanência do Espírito em seu coração, tanto da igreja, que como comunidade abraçará as verdades redentoras e salvíficas a seu dispor.

É interessante observar que Paulo não une Cristo e a igreja como formando um único corpo, como se a igreja fosse o corpo e Cristo sua cabeça, mas, destaca o papel de Cristo como cabeça, no sentido de liderar, conduzir, mas eu um contexto de “uma só carne”, referenciada como descrição do casamento. Ou seja, Cristo é sim o líder, a cabeça, o principal, mas não destitui a igreja, chamada as vezes de noiva e outras de esposa, da sua individualidade e capacidade de pensar e crescer autonomamente e intelectualmente.

Na linguagem metafórica de Paulo que descreve a igreja como corpo, enfatiza-se a unidade humana, dos indivíduos em comunidade, onde cada qual cumpre seu dever, seja qual for, sem prejuízo dos demais. Pouco a pouco Paulo introduz a ideia da transformação do homem indivíduo ao assumir a nova natureza cristã, formando-se um novo homem, disposto a livrar-se de seus pensamentos pré concebidos para unir-se a um novo corpo, também chamado de novo homem, onde não há distinção de raça ou origem, nem de ideias ou condições, apenas a união oferecida pela graça de Cristo, sem deixar dúvidas de sua divindade, enquanto destaca sua união com a humanidade.

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