Ao analisar o texto de Jó 19:23-27 é difícil interpretar diretamente a que Redentor a narrativa se refere ou qual seria o entendimento teológico do personagem/escritor para compreender ao dizer que “ …o meu Redentor se levantará sobre a terra, e mesmo consumida minha pele, em minha carne verei a Deus”. Em diferentes momentos da história essas expressões podem assumir justificativas de crenças distintas. Para compreender o texto é preciso lê-lo conectando com a crença do autor. Se, enquanto leitor, admito, assim como um bom número dos eruditos e estudiosos do texto biblico, de que Moisés é autor tanto de Jó como de Gênesis, é uma boa alternativa procurar encontrar elementos comuns aos dois textos.
Ao ler o prólogo de Jó, escrito em prosa, como uma abertura para a leitura em poesia que se seguirá, encontramos os seguintes elementos comuns a narrativa da queda em Gênesis:
- Satanás encontrava-se no Éden na figura da serpente/tentador, em Jó aparece como acusador;
- No Éden é descrito um encontro do Senhor com o homem na viração do dia, em Jó os filhos de Deus (normalmente entendido como anjos) vão se encontrar ou reunir na presença de Deus;
- No Éden Satanás acusa Deus de esconder a verdade do homem, em Jó acusa de “comprar-lhe” a fidelidade com bênçãos e favores;
- Em Jó os anjos (filhos de Deus) são citados apenas como personagens da reunião, no Éden são colocados nos portões (que não temos como saber a que tipo de portão se refere).
Lendo a minha Bíblia em português (tradução João Ferreira de Almeida – Atualizada) percebo essas ligações entre os textos. Partindo desse princípio, analisando a profecia de Gênesis 3:15 “E inimizade porei entre ti e a mulher, e entre tua descendência e a descendência dela; esta te ferirá na cabeça, e tu lhe ferirás no calcanhar.” agora podemos deduzir que o Redentor de que trata Jó no capítulo 19, versículo 25 seja a “semente da mulher”, o qual deverá “esmagar a cabeça da serpente”, vencendo definitivamente a
Satanás e suas acusações.
Uma última relação digna de nota, é que o texto de Jó entendido dessa forma, elimina por completo a possibilidade de a “semente da mulher” incluir o povo de Deus ou a humanidade como coparticipante da vitória sobre o mal. Simplesmente para Jó não há nada que ele possa fazer que o remedie de alguma forma, necessitando apenas esperar a atuação divina de seu Redentor.