A IGREJA NO PERÍODO ANTEDILUVIANO

Inicia-se o processo de “religare”

Logo após a ocorrência da queda, o pecado torna-se parte integral do ser humano. Conquanto cremos pela descrição bíblica que Adão e Eva não se tornaram seres malvados, com demonstrações de crueldade como logo se tornariam seus descendentes, viram na natureza, no ambiente e no seu próprio interior uma radical mudança. O medo, a ansiedade, a tristeza e a morte, entre outros sentimentos e acontecimentos negativos passaram a fazer parte de seu quotidiano. A inocência perdida levou para sempre a plenitude e a felicidade.

Neste contexto, o Ser Divino que lhes visitara diariamente no período pré-lapsariano fala-lhes de um plano projetado nas câmaras celestiais para reconciliação, para restauração. Uma condição melhor do que a anterior, uma vez antes da queda a inocência tinha um quê de ignorância, condição esta explorada pela mente perversa do tentador para instigar-lhes a curiosidade: “…sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal”. Enquanto a restauração traria uma condição de liberdade consciente e pureza.

O ser perverso que tentara o casal no Éden não possui uma descrição clara e completa no relato da queda. Nada é dito sobre sua preexistência ou origem, nem tampouco sobre qual sua motivação.

O que conhecemos desse ser maligno e seus anjos vem de relatos posteriores dados em visões proféticas. Entretanto, uma vez que cremos ser Moisés o autor do texto de Gênesis e também do livro de Jó, sendo esse último escrito antes mesmo do relato da criação, podemos afirmar que havia um bom entendimento de quem se tratava e porque tentara a humanidade, sendo que ele não explica quem seja Satanás, apenas relata os fatos, podemos deduzir que seu público também conhecia bem essa história, para que o relato não necessitasse mais explicações.

Podemos dizer que a religião anterior a Moisés funcionava de forma oral, sendo os relatos e histórias da criação, queda, dilúvio e dos patriarcas passados de pai para filhos, de geração a geração. Embora haja nuances variadas dessas histórias, podemos encontrá-las em muitas culturas ao redor do mundo, na maioria delas com elementos comuns umas as outras, demonstrando haver um precedente histórico real.

Ao aceitarmos o conceito de inspiração do texto bíblico, ao analisarmos como Deus conduziu sempre um remanescente a manter acesa a chama da verdade, cremos que Deus permitiu que Moisés tivesse contato com o relato verdadeiro, tanto durante os doze anos em que cresceu com sua família, ou durante os vinte e oito anos seguintes nas cortes egípcias ou ainda os quarenta em que conviveu com um sacerdote familiar no deserto, de forma que Deus inspirou-lhes a selecionar e escrever para as gerações posteriores um relato fiel e verdadeiro do princípio. Toda essa história será tratada no capítulo que trata da IGREJA NO DESERTO.

Em todo o momento, desde esse distante princípio, encontramos na bíblia Deus buscando o homem e oferecendo-lhe uma oportunidade de salvação. Na maioria das vezes o homem é movido pela algum princípio moral remanescente em seu íntimo, que permite que Deus o alcance, mas nunca pela iniciativa humana. Deus busca a reconciliação. Não o homem. Adão e Eva esconderam-se naquela tarde. Logo a seguir Adão estava usando Eva para acusar a Deus como responsável: “a mulher que me deste” e Eva usaria a serpente como a mesma intenção de responsabilizar a Deus “a serpente a qual criaste”.

Assim, podemos redefinir o termo religião “religare” e afirmar que é a iniciativa divina de resgatar o homem, ou seja, é Deus quem constrói a ponte, nunca o homem.

O sistema sacrifical

Naquela mesma tarde após a queda, Deus visita o casal, busca-o para próximo de Si mais uma vez e lhes expõe as tristes consequências do pecado e de uma vida longe dEle. Como a fonte divina de vida, fá-los perceber o inevitável resultado da separação como a cessação da vida. A morte, até então desconhecida no Éden é condição irremediável para um mundo em pecado, separado. O homem criado como ser supremo neste mundo entrega o domínio do mesmo de forma gratuita ao usurpador, a Satanás. O homem compreende a magnitude do fato e tenta justificar-se em seus méritos diante de Deus, acusando o próprio doador da vida de responsável por haver criado seres capazes de levar ao pecado.

Esse grito humano de justificação própria ecoa as declarações satânicas nas hostes celestiais, quando Lúcifer andava a instigar em outros seres angelicais a culpabilidade de Deus e de sua lei a qual ninguém poderia cumpri-la por que, segunda alegava, feriria lhes os direitos concedidos de livre-arbítrio. Ou seja, Lúcifer insistia que o livre-arbítrio não era de fato livre, que Deus impedia-lhes exercer plenamente esse direito, impondo leis e regras enquanto lhes declarava uma falsa liberdade.

Nunca compreenderemos com as informações que temos como originou-se o pecado em Lúcifer. Muitos são tentados em todos os tempos a culpar a Deus pela permissão da sua existência ou de não eliminá-lo ou neutralizá-lo logo que foi manifesto. A Lúcifer e seus anjos foi oferecido uma chance de retratação, de “religare”, uma forma de religião angelical, onde esses anjos poderiam voltar a sua posição inicial diante de Deus ou permanecer ao lado de Satanás. Creio ter havido um grupo, senão a maioria, que ficou ao lado de Lúcifer com muitas dúvidas. Dúvidas sobre a veracidade das declarações de Lúcifer e dúvidas sobre as declarações divinas. Dúvidas sobre si mesmos, se haviam tomado a decisão correta. Creio que alguns desses, enquanto lhes foi permitido tenham retornado a presença de Deus, e alguns mesmo sem ter respondido suas indagações interiores.

Ainda do outro lado, dentre aqueles que não atenderam as afirmações satânicas, um grupo de seres angelicais permanecia na presença divina sem contudo haver plenamente compreendido as implicações de tudo o que estava ocorrendo. Vez ou outra suas hábeis mentes permitia-lhes navegar pelas dúvidas das alegações de Lúcifer e de sua retórica bem elaborada.

Principalmente para esclarecer a esse último grupo de seres, creio que Deus preferiu permitir que Lúcifer, seus anjos e as consequências de sua insistente separação dEle prosseguissem e alcançassem esse novo mundo. A humanidade também seria exposta a possibilidade de pecado e se atendessem ao tentador seriam igualmente separadas de Deus para provar-lhe a autenticidade da liberdade ofertada por Deus.

Desde o princípio vemos Satanás insistentemente afirmando que Deus não permitirá a manifestação completa da punição do pecado: “É certo que não morrereis”. Satanás, nas diversas versões da falsa religião que tem se esforçado por disseminar tende a declarar que há um possível mal entendido entre seres divinos e que no final eles se acertarão, permitindo que todos os seres sejam restabelecidos a plenitude. Ou seja, Satanás insistentemente declara que Deus permitirá que as criaturas mesmo separadas dEle usufruam da vida que dEle emana. Em versões distintas e variadas, declara que como Deus é amor, todos serão salvos, independente de suas atitudes ou preferências.

Satanás se esforça desde esse início por turvar o entendimento humano do plano da redenção. Deus em sua sabedoria instituiu uma forma didática, porém real, para ensinar-lhe o preço e forma da redenção. Creio que para Adão e Eva deve ter havido uma significação muito dolorosa e forte em buscar um cordeirinho, pô-lo em uma pilha de lenha e, então, levantar um cutelo de pedra e ferir-lhe propositalmente.

Esse ato repleto de significados aflorariam nesse homem que viveu em um mundo perfeito e sem morte uma infinidade de emoções que lhe fariam compreender a magnitude do seu ato diante do universo e ainda a magnitude dos atos de Deus na busca pela reconciliação, pela “religare”.

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