Como a narrativa de João revela o Salvador do mundo

O arranjo do texto bíblico moderno coloca os quatro evangelhos em sequência, iniciando por Mateus, Marcos, Lucas, chamados de sinóticos, uma termo de origem grega para dizer que são paralelos, em seus conteúdos, objetivos e estrutura. Esses evangelhos têm grande valor, até por poder nos fornecer dados que, se postos a um juri de caráter forense, poderemos confirmar a veracidade dos fatos relatados, como se houvera sido feita uma acareação.

Depois deles vem o evangelho de João. Percebe-se que desde sempre esse evangelho se destaca pela mensagem, objetivos e propostas diferentes em relação aos anteriores. Uma explanação mais abrangente e filosófica, distante das discussões judaicas de genealogias e cronologias. Uma mensagem que mostra Jesus como o Senhor, a origem, o causador do mundo. Não apenas do processo da Redenção, mas, envolvido desde o princípio, desde a criação da humanidade.

O texto de João inicia identificando Jesus como o Verbo (na maioria das traduções em português) ou a Palavra (tradução mais apropriada do termo Λόγος – logos, em grego). Essa identificação cria uma relação com o conhecimento filosófico grego, colocando Jesus como o originador, o causador, tal qual o Logos do pensador Heráclito, como sendo a razão, o sentido da existência. O Logos é entendido pelos gregos em conexão com outro pensamento filosófico do Inamovível Movedor de Aristóteles.
Assim, nos primeiros versos o evangelista cria um elo de ligação entre a filosofia grega e a religião judaica, apontando para o Logos e marcando como o Criador (versos 2 e 3) e logo a seguir volta a citar a filosofia falando de luz e trevas, apontando Jesus como a Luz do mundo.

Costurando o pensamento pela conhecimento de seu tempo, João destaca Jesus como o Criador que busca suas criaturas, que dá-se a conhecer a elas e demonstrar o quanto lhe custa resgatá-las. O Salvador logo será encontrado transformando pessoas, amando-as, oferecendo-lhe “água viva”, “pão da vida”, “a ressurreição e a vida”. A cada necessidade humana, o Salvador se apresenta como o grande “EU SOU” dos hebreus, o Logos dos gregos ou o simples profeta que pode oferecer “água que jorra para a vida eterna”!

João não parece preocupado em mostrar Jesus como o legítimo descendente de Davi, mas, sim, como o legítimo “descendente da mulher”, aquele que tem capacidade de, mesmo sendo ferido “ferir a cabeça da serpente” e aniquilar finalmente o pecado e sua sombra.

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