Deus rejeita o sacrifício da presunção – Gênesis 4

A história de Caim e Abel é por demais conhecida por cristãos, incrédulos e mesmo descrentes, considerada por alguns apenas como uma fábula, como a história de dois irmãos que sofrem na pele as consequências do afastamento do propósito de amor fraternal, substituído por inveja, ciúmes e rancor.

A Bíblia não conta muitos detalhes, mas podemos crer que Adão e Eva tenham ensinado a ambos enquanto crianças a amar o Deus Criador, tenham lhes ensinado a respeito do pecado e suas consequências, ainda bem visíveis enquanto o Jardim do Éden ainda estava as suas vistas, guardado por anjos divinos. Ambos cresceram no seio da mais pura religião possível após o pecado.
O primeiro a trazer sua oferta, talvez por ser o mais velho, foi Caim. A primeira impressão é a de que ele tenha se esmerado em providenciar sua oferta e que trouxe-a prontamente. Mas escolheu trazer frutos da terra, obtidos por seu trabalho, como sendo a oferta a apresenta-la ao Senhor, para que esse o aceitasse e o redimisse.
Logo mais vemos Abel trazendo o melhor do seu rebanho como oferta ao Senhor e Deus prontamente demonstrou aceitação, enquanto demonstra rejeição do pseudo-sacrifício de Caim.
Por que a oferta de Caim foi rejeitada?

  1. Caim não estava obedecendo plenamente a instituição divina de sacrifício, que deveria apontar para o sacrifício completo de Cristo, o Cordeiro de Deus. Caim oferecia o fruto da terra. “De fato, segundo a Lei, quase todas as coisas são purificadas com sangue, e sem derramamento de sangue não há perdão.” (Hebreus 9:22, NVI)  O texto bíblico não apresenta o sacrifício de animais anterior a essa passagem, mas podemos pressupor e temos como verdade que o Senhor havia instituído o sacrifício de animais ao matar o animal para retirar a pele para fazer vestes para o primeiro casal logo após o pecado. A semelhança de Adão e Eva, Caim tentava aplacar a ira de Deus com frutos. Compare: “Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.” (Gênesis 3:7, RCF) “…Caim foi lavrador da terra. E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. (Gênesis 4:2-3, RA). Deus mostra logo que a única maneira de ter a redenção é através do sacrifício de derramamento de sangue e que o sacrifício de animais apontam para o Sacrifício de Cristo, redimindo a humanidade.
  2. Caim oferece o seu sacrifício primeiro, demonstrando pressa em demonstrar-se um crente fiel. Um paralelo muito comum com ditos crentes modernos que tentam oferecer o seu sacrifício como uma demonstração humana de supremacia sobre os outros. É hipocrisia, é falso-sacrifício porque são feitos com propósitos egoístas, com uma falsa modéstia, colocando-se antes de seus irmãos, seja por direito ou por exigência.
  3. Caim oferece o fruto do seu trabalho, tentando demonstrar que o fruto da sua mão, do seu ego tenha condições de trazer-lhe a salvação. A oferta de Caim é uma tentativa de comprar a Deus. De fazer com que Deus o aceite por seus próprios méritos. É pura presunção e prepotência. Caim deseja que Deus lhe dê os louros da vitória não nos méritos redentores de Cristo, tipificado no sacrifício de cordeiros, mas nos seus próprios, demonstrando não necessitar de um Salvador.
O restante do história demonstra o quão longe o homem pode ir quando decide agir e por conta própria e criar seu próprio senso de justiça. Caim passa a invejar seu irmão pela aceitação do seu sacrifício. Mas ao invés de seguir-lhe o exemplo e contrito oferecer o sacrifício exigido, decide vingar-se e vai até o extremo do homicídio.
Ao constatar a gravidade do que fizera, tenta esconder-se das consequências “E disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; sou eu guardador do meu irmão?” (Gênesis 4:9, RCF)
A vida de Caim transforma-se. Do primogênito dos homens torna-se um andarilho errante, que mesmo criando fortalezas e cidades, sua descendência apresenta um obscuro caminho de pecado, fracasso, intrigas, assassinatos e outras consequências funestas de estar longe de Deus.
A pergunta feita de maneira evasiva por Caim tem a intenção de tirar dele a responsabilidade por seu ato, mas a forma como Deus o responde tem lições importantes: “E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra. E agora maldito és tu desde a terra, que abriu a sua boca para receber da tua mão o sangue do teu irmão.” (Gênesis 4:10-11, RCF)

  • Sim, Caim era guardador de Abel e nós todos somos guardadores do próximo, da humanidade como uma irmandade. Se compreendermos isso compreenderemos nosso papel como seres-humanos em face da violência, do infortúnio, da guerra. Aliás, uma compreensão adequada dessa responsabilidade fará com que entendamos porque desgraças acontecem e Deus não interfere. A responsabilidade é humana. É uma atribuição dada na criação. A humanidade precisa resolver suas diferenças de forma pacífica, talvez de modo imperativo, mas nunca agressivo.
  • “…sangue do teu irmão clama a mim desde a terra…”  A referência a sangue, tanto no texto bíblico, quanto na própria literatura e linguagem coloquiais, mesmo no português, refere-se a linhagem, tanto tratando-se de ascendência ou descendência. De forma que falar do sangue (no texto original, o termo sangue está no plural “sangues”) fala da descendência negada para Abel e da dor da falta de seus pais. Não é nenhuma apologia ao espiritismo ou vida pós-morte. Mas trata do fim antecipado de toda uma possível geração de pessoas que teriam descendido desse servo de Deus. Todo ato, mal ou bem, tem consequências muito maiores do que as imediatas.
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