DO SILENCIO DO LAR AO SILENCIO ESCOLAR

Texto apresentado na disciplina de Sociologia, na faculdade de Pedagogia da Univille.

“Se a educação não transforma sozinha a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. Se a nossa opção é progressista, se estamos a favor da vida e não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, não temos outro caminho senão viver plenamente a nossa opção. Encarná-la, diminuindo assim a distância entre o que dizemos e o que fazemos” Paulo Freire, citado em o livro homônimo deste trabalho, de Eliane Cavalleiro.
A discussão do racismo e questões étnicas no Brasil é tão antiga quanto polemica. Por trás de uma figura de país racialmente democratizado, conhecido por sua miscigenação racial, temos uma realidade ideológica e social bastante constrangedora e preocupante.
Também no meio escolar podemos apreciar com tristeza o desenvolvimento desta ideologia preconceituosa e seletiva. Podemos vê-lo nas atividades infantis, nas brincadeiras, no material didático, no quotidiano onde transfere um sentimento negativo sobre as diferenças raciais e sociais.
Temos também a analisar a diferença social, que pode ser dita como o principal problema de preconceitos no Brasil, que gera muita discriminação. Haja visto o contexto histórico, onde as raças minoritárias somente agora tem a sua igualdade perante a lei, vemos também que os grupos raciais tidos como “inferiores” na sociedade são também os ocupam as camadas sociais mais baixas.
A legislação brasileira garante o direito a Educação Infantil e não faz distinção entre grupos étnicos ou minorias sociais, sendo um ótimo recurso para as famílias de baixa renda, em que as mães trabalham e deixam seus filhos aos cuidados de uma creche ou entidade de educação infantil. Essa experiência pode ser muito positiva para o desenvolvimento infantil e caracteriza essas instituições (creches e pré-escolas) como um espaço importante para o desenvolvimento da criança. (Op Cit)
Percebemos também que nem sempre os conhecimentos valorizados no meio familiar são os mesmos valorizados no meio escolar e vice-versa. Conseqüentemente os valores, as normas e as crenças incutidas nas crianças podem diferir nas instituições educativas. O mesmo equivale para atitudes e comportamentos que também podem ser vistos e analisados de diferentes formas.(Op Cit)
Conceituamos racismo como sendo uma ideologia de uma hierarquia étnica ou racial, tendo seu ponto de partida na teoria da evolução e dando margem ao pressuposto da possibilidade de uma etnia subjugar ou dominar outras minoritárias ou diferentes.
Preconceito seria um subproduto do racismo, uma atitude hostil nas relações interpessoais. O desenvolvimento da cultura, o processo de se tornar individuo se tem dado em função da adaptação a luta pela sobrevivência. Essa socialização pode tornar o individuo preconceituoso. Preconceito pode ser definido como um julgamento prévio negativo em relação a qualquer outra pessoa da sociedade. Normalmente não é fundamentada no conhecimento, porém na sua ausência, sendo possível, em alguns casos, em que mesmo atitudes tida como positivas não o sejam.
Decorrente deste preconceito temos enfim, a discriminação étnica, visto que se há um preconceito, provavelmente o individuo será discriminado. Evidencia-se isso quando, em condições sociais de suposta igualdade, fato declarado no Brasil, há um favorecimento para um determinado grupo (brancos) nos aspectos social, educacional e profissional.
Ao analisar um grupo (em questão: alunos de séries iniciais em sala de aula) vemos uma razoável mistura étnica, reproduzindo a realidade do Brasil, negros, brancos e demais em situações de relação diária, usufruindo aparentemente das mesmas oportunidades. A escola assim vista representa um espaço positivo e democrático que respeitaria as crianças promovendo o seu desenvolvimento (Op Cit)
Na pesquisa realizada por Eliane Cavallero e relatada em seu livro já citado, ela observa as características do sistema educacional e como professoras e educadoras do pré-escola não se tomam conta de como suas atitudes e maneira de lidar e educar os alunos refletem para eles como modelo de socialização e assimilam dessa forma o mundo. É assim que se vê professores ensinando o revide, alunos são conhecidos pela cor da pele (aquela moreninha, aquele loirinho ali). Ela relata ter ouvido de uma criança, na sua própria linguagem infantil de que outras crianças, exceto uma, tinham “nojo” dela por ser “preta”. Nos livros infantis, tanto nos didáticos como nos paradidáticos há uma total ausência de representações de crianças negras, salvo quando trata do assunto ou se refira a algum problema de sociedade, trazendo consigo um conceito, ou preconceito e uma forte discriminação. Há também o silêncio, como se o problema não existisse ou fosse algo fora, parte da sociedade e ausente dos pátios escolares.
O preconceito chega a ser primário, quando se vê afirmações de há um distanciamento pelo “cheiro” do negro, mal-hálito ou caries, que alias, são bem mais comuns e fáceis de ocorrer nos brancos. Uma explicação fortemente marcada por estereótipos, que associa o negro à sujeira e falta de higiene, mal-hálito, piolhos. Neste discurso o cheiro assume a totalidade do individuo, assim, o cheiro do negro seria o causador do racismo.
Diante do exposto, como estariam inseridas as crianças com as quais uma professora irá se relacionar durante o dia. Em sua observação vê como uma criança negra se defende quando outras brancas a xingam de “preta fedorenta” e revida com violência, reproduzindo o quadro social, onde depois de ter sido ridicularizado, pivô de chacota e deboche, age com a violência e é penalizado.
A realidade mostra que ser negro é estar em segundo plano, a margem da sociedade, as vezes motivo de gracejos e “malandragem” de outros alunos, normalmente maioria.

Ref

CAVALLEIRO, Eliane dos Santos. Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação infantil. São Paulo: Contexto, 2000.

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