Homilética – A proclamação pública do Evangelho

O conceito de homilética como pregação da Palavra de Deus pode ser ampliado ao se fazer uma tentativa de comparar as ideias de “anúncio público da fé” ou “proclamação” pública da fé. Em um primeiro momento, anunciar a fé pode consistir apenas uma declaração de fé, de pertinência a determinado grupo religioso, presumidamente cristão. Ao mesmo tempo o anúncio da fé pode ainda representar a participação do fiel na agenda e programação religiosa de sua entidade, mesmo como participante ativo em seus ritos, liturgias e formas. Ao final temos uma receita que pode se tornar “propaganda religiosa”, com vários membros envolvidos em destacar sua “entidade” como a melhor em relação as outras e, tentando assim, a criar um “proselitismo” de marca de igreja. Essa abordagem foge ao conceito original de pregação evangélica.

A proclamação pública da fé quebra um tanto esse conceito, uma vez que essa palavra amplia o conceito de anúncio. Não se trata mais de propaganda religiosa, mas de declarar, enfatizar, divulgar a história da Redenção, do resgate pessoal, da misericórdia divina. Uma forma de pregar que quebra as barreiras da corporação religiosa, conduzindo a mensagem ao campo espiritual de forma individualizada.

Por séculos a humanidade oscila moralmente, embora o ético sempre lhe soe internamente, como se Deus houvesse (e de fato, o fez) implantado internamente uma autoconsciência do bem. A sociedade tenta definir e delimitar esses princípios criando leis e regulamentos que permeiem a vida social.

Ao conceder a lei ao povo hebreu no passado, Deus ofereceu uma visão do seu caráter, da ética prática, refletida em conceitos morais e humanos. A lei de Deus ainda referenciava o seu caráter justo, diferente do caráter humano, tendencioso e egoísta. A lei demonstrou a fraqueza humana e logo todos nos vimos muito distante do ideal divino, distante do santo e perfeito propósito.

Assim, a lei leva-nos ao autoconhecimento do pecado, reconhecemos o que é mau em nós. Ao longo do tempo a humanidade chegou mesmo a conceber como correto vários desses aspectos malignos que fazem parte de nossa natureza, da nossa carne pecaminosa.

A proclamação da fé é uma atribuição divina ao homem, que agora, reconhecendo sua condição de pecador e destituído do favor de Deus, condenado a morte por sua condição pecaminosa, têm na graça, através da fé no Evangelho, a chance de receber a justiça imputada de Cristo, que comunica ao pecador sua condição de Santo e Perfeito Sacrifício, cumprindo os requisitos “legais” da punição pelo pecado. Esse reconhecimento da condição pecadora e dependente de Cristo para que haja uma redenção, uma justificação não merecida, mas oferecida pela Graça Divina é o tema de toda e qualquer pregação, a Proclamação que deve ser vista em todos os púlpitos e lugares. Assim, o homem resgatado passa a fazer parte do plano da salvação, atuando como “evangelista” ao contar a seus conterrâneos sobre a graça recebida do céu.

Essa coparticipação humana na pregação do Evangelho longe está de torná-lo melhor do que seus irmãos, antes servindo como um antídoto contra a força do pecado para si mesmo. A mesma graça que o redimiu permite agora, que, ao se engajar no ministério, participe e ofereça do remédio recebido contra o pecado aos seus irmãos em sua congregação e comunidade.

A pregação evangélica que envolve testemunhos de redenção têm a capacidade de alcançar os corações dos ouvintes de uma forma mais impactante do que os rebuscados e altamente elaborados sermões acadêmicos ou técnicos. É claro que a profundidade do estudo é necessária e, no corpo da igreja deve ser buscado. Entretanto, essencialmente, a pregação do evangelho é um testemunho vivo, dado por quem foi transformado, de pecador em criatura perfeita, pela graça de Cristo a outros, uma mensagem que visa atrair pecadores ao encontro com o Redentor.

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